sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

solilóquio

Talvez os imensos limites da pátria me lembrem os puros
E amargue em meu coração a descrença.
Sinto-me tão cansado de sofrer, tão cansado! – algum dia, em alguma parte
Hei de lançar também as âncoras das promessas
Mas no meu coração intranqüilo não há senão fome e sede
De lembranças inexistentes.

O que resta da grande paisagem de pensamentos vividos
Dize, minha alma, senão o vazio?
São verdades as lágrimas, os estremecimentos, os tédios longos
As caminhadas infinitas no oco da eterna voz que te obriga?

E no entanto o que crê em ti não tem o teu amor aprisionado
Escravo de fruições efêmeras...
Ah, será para sempre assim... o beijo pouco do tempo
Na face presa da eternidade
E em todos os momentos a sensação pobre de estar vivendo
E ter em si somente o que não pode ser vivido
E em todos os momentos a beleza, e apenas
Num só momento a prece...
(...)
Vinícius de Morais

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